7 de julho de 2010

a zona de conforto é o espaço perfeito para a involução.
o lugar da estagnação.
o endereço para a morte dos sentidos.
o ponto imutável.
a zona mais propícia para se morrer vivo.

1 de julho de 2010

num grito de libertação
com uma propriedade nunca antes sentida
saí nua pelas ruas onde vivo
onde morro
nua.

livre de qualquer pudor, vergonha ou moral,
feito um animal,
corri da desgraça, para a luz.

em êxtase sui generis, me despedindo da vida, daquela vida que havia vivido até ali, nua, em pleno dia, morria.
ria compulsivamente, aí chorava histericamente; babava muito, suava e derretia, com olhos amarelos de bilirrubina.
deformada, solitária, extraditada da minha organicidade, em transe psico químico mental metal metafísico, total, sentia contato com o que chamo de verdade.
como um vulcão desperto, explodi em multi meios, sem freios, sem receios.
toda as ilusões que me constituíam, milhões delas, feito órgãos, feito sangue, feito gente que achei que amava e que me amava, feito pseudo amor; projeções tão concretas quanto montanhas, ou esgotos, implodiram dentro de mim, e dei o grito mais estridente, não melódico, desesperado, libertador e raro. vomitei em som.
na não-linearidade renasço.
sangue cigano é meu passo.
expandi na velocidade da luz.
os céus se fecharam, o sol se multiplicou. vi o que vejo quando desperta, quando alerta, sem ruídos, sem definições.
todas as formas ruíram, na doce sinfonia dos sentidos.
tudo o que acreditava era nada.
a seiva da existência, simples e rudimentar, sofisticada e estelar, me levou.
nua, diante da rua e da lua, da sociedade, da máxima dor e do pleno gozo, abri os braços e morri.
amarela, verde, roxa, sangrei toda a dor que até aqui guardava como se fosse tesouro. dissipei o veneno que habitava em mim, murchei numa grama qualquer, e ouvi o silêncio do começo dos tempos.

dentro de mim meu Mestre.
e cegada pelo brilho da visão, desmaiei, inebriada de lucidez.

lúdica, corri por entre tantas ruas, sorri para tantas almas, mesmo as mais medíocres e pequenas; joguei fora todas as amarras, cuspi na matéria, saudei a insanidade, comi flores e poemas, vi que a vida é muito além do que sonha nossa vã realidade. nossas vãs idades.

renasço da morte do jogo.

pobre daqueles que seguirão suas existências escravos de seus sentidos, na mediocridade da carne. o ensaio sobre a cegueira não é mais ensaio. está em cartaz. em todo canto do mundo.

agora nua com o sonho real,
busco meu capital particular.
não há mais o que esconder. 
não há mais tempo a perder. 
cada segundo vale vida. cada perda de tempo não vale a perda.
é merda.